Papo de ET

Hoje, mais do que nunca, estou com vontade e necessidade de falar. É que eu me sinto meio sozinha e sinto que é bastante complicado conversar com as pessoas. Olha, não é só no trabalho não. Devo confessar que fazer amizade é muito difícil. E mais difícil ainda é fazer as pessoas me entenderem. Eu devo ser mesmo um peixe fora d’água (ou como diriam aqui na Argentina, un sapo de otro pozo). Eu que não queria acreditar nisso. E acho que isso não acontecia no Brasil, porque sempre tive muitos amigos e amigas em todos lados, não sentia dificuldade para me relacionar com as pessoas. E aqui, acreditem, tenho muitas dificuldades.

A primeira delas é no trabalho. Não consigo me relacionar com ninguém. Não almoço com ninguém e no início era super complicado para mim. Agora já me acostumei. Mas, no Santander, eu tinha várias amigas e amigos, e no almoço era uma verdadeira festa, mesa grande, cheia de gente, risadas, brincadeiras, assuntos sérios... falávamos de tudo, menos de trabalho e muito menos da vida dos outros. Acho que me acostumei mal. Aqui não existe isso (exceto no meu emprego anterior, que minhas amigas me disseram que é coisa rara de acontecer).

Eu não quero falar mal de Buenos Aires. De forma alguma! Adoro estar aqui, ainda mais porque é um lugar que me puxa para os meus próprios limites. Cada dia supero alguma coisa que achava que era impossível.

E vejam, nem tudo é chororó. No meu emprego anterior eu fiz grandes amigas e um amigo. Pessoas que me acolheram e me trataram como um ser normal. Me trataram como argentina. Até mate ganhei. Quando me lembro dos nossos dias de trabalho juntas até me dá saudade, porque o salário era horrível, mas as pessoas eram fantásticas.

E eu fico pensando, quem nunca se sentiu um ET? Eu acho que sou um ET. O bom é que ao longo da minha vida aqui na Argentina, fui encontrando alguns outros ETs. Gente do bem, mas estranhas como eu. Não vou mencionar nomes, porque podem se ofender (ou não, nós ETs reconhecemos que somos diferentes). E fico pensando existe alguma fórmula para ser uma pessoa normal? Ainda não encontrei. Enquanto isso, falo sozinha, quem sabe me entendo.

Mas tem alguns detalhes do meu dia-a-dia que dão fôlego: o meu instrutor na academia, que é um senhor muito, mas muito simpático, é um bom exemplo. Adoro conversar com ele enquanto faço esteira (claro que ele fala mais que eu, porque sinceramente é impossível eu falar e caminhar rápido). O nome dele é Roque. E tem o Mário, que é motorista da Nidera. Ele é um doce de pessoa, e sempre conversamos sobre a vida, viagens, tempo, etc. Se não fosse ele, minha vida laboral aqui seria quase insuportável.

E é por isso que eu gosto de viver aqui. Gosto de descobrir essas pessoas preciosas. Como meus amigos, alguns queridos conhecidos que me agüentam e me escutam. E eu sei que esse post não é dos mais animadores. Mas quem disse que ets não têm dias estranhos assim?

PS: Muito obrigada pelos comentários. Simplesmente A-DO-REI!